sexta-feira, 25 de abril de 2014

Wyllian Soppa

Jornalista e narrador esportivo, fã de esporte, de carros, de rock, ex jogador de futebol americano, flamenguista doente.

Nascido e criado em Curitiba, mas com planos de meter o pé na estrada e buscar o sucesso na profissão no Rio de Janeiro, se tudo der certo.

Glauco Silveira: Já sabemos que você torce para o Flamengo, pois bem, por que o Flamengo já que você é nascido e criado em Curitiba?

Wyllian Soppa: Eu nasci em berço coxa (Coritiba), minha família é coxa, mas eu quando pequeno nunca fui muito fã de futebol. Um amigo da família tentou me converter pro Inter quando pequeno, mas não deu certo. Continuava não gostando de futebol. E como a maioria dos torcedores do coxa que eu conhecia eram absolutamente chatos e sem noção, fui perdendo de vez o interesse pelo time e pelo esporte, até que um dia, na sétima série (isso foi em 2002), tive que fazer um trabalho sobre o futebol brasileiro, me caiu o Flamengo. Enfim, comecei a estudar a história, ver jogos históricos, comecei a me envolver, gostar, e decidi que seria Flamenguista, Foi meio arrebatador.

Glauco: E qual o jogo do Flamengo que você tenha presenciado que te marcou? Tipo o jogo da sua vida como torcedor?

Wyllian: Que eu presenciei foi a final da Copa do Brasil do ano passado, no primeiro jogo. Foi a primeira final com meu time que pude ver ao vivo, e consegui garantir presença faltando poucas horas pro início do jogo. Foi bem emocionante sentir aquela vibração de jogo decisivo, foi algo diferente de qualquer outra coisa que eu já tenha vivido em estádio.

Glauco: E no passado do Flamengo, já que você estudou a história do clube, qual passagem você gostaria de ter presenciado?

Wyllian: Dois jogos, na verdade. Queria ter visto aquele gol de falta na final do Carioca de 2001, aos 43 do segundo tempo, quando o Pet quase derrubou o Maracanã, e sem dúvidas Flamengo x Liverpool, em 1981
pelo Mundial, não só pelo Fla, não só pelo título, mas pelo baile do Zico, pra mim um dos maiores jogadores do mundo.

GlaucoComo jornalista qual a sua opinião sobre a Copa do Mundo ser realizada no Brasil...você acha uma boa ou uma "furada"?

Wyllian: Uma furada, desde o início. Todos nós sabíamos dos riscos de desvios devido ao Pan do RJ. Sabemos como funciona no Brasil. É claro que, se for só pelo evento, pela grandeza e pela chance de ter uma Copa do Mundo aqui perto, é sensacional. Mas se for levar em conta os jogos políticos, é uma furada imensa. O que eu acho mais triste é a postura da população. Na hora em que dava tempo de evitar, todos acompanharam em televisões ou telões a escolha do Brasil como sede, todos vibraram, sendo que aquele era o momento ideal pra evitar. Depois que a vaca foi pro brejo, e que não tinha mais como reverter o processo, surgiu o movimento #NãoVaiTerCopa, mais uma demonstração da passividade do nosso povo e de como se deixa tudo pro último instante.

GlaucoMuito se fala até por que estamos no estado do Paraná sobre o superfaturamento da Arena da Baixada, porém na sua opinião estádios como de Cuiabá, Natal e Amazonas haviam reais necessidade de construir ou reformar?

Wyllian: Eu acho ridículo construir estádios como estes em locais onde nem sequer existe futebol. Em Cuiabá, por exemplo, vai acabar virando casa do futebol americano da cidade, que dá o triplo de público do que a soma das torcidas dos principais times de lá, por exemplo (e ainda assim é pouca gente). É claro que, se a Copa é do BRASIL, é justo que tenha jogos em todas as regiões, mas vai acontecer como na África do Sul, onde alguns estádios foram demolidos. Se fizesse o que era mais viável, que seria polarizar no leste do país, diriam que era preconceito com os outros lugares, mas fazer estes elefantes brancos é mais absurdo do que polarizar a competição.

Glauco: Já que você falou no futebol americano, como esse esporte entrou na sua vida?

Wyllian: Eu sempre gostei dos esportes de fora, assistia NBA na Bandeirantes, por exemplo. A primeira vez que vi algo relacionado ao futebol americano foi quando era molequinho, em um desenho do Pateta sobre como jogar o esporte, aquilo foi impagável. O primeiro jogo que assisti foi na temporada 2007/2008, um jogo do Pittsburgh Steelers onde eles tomaram uma surra. Mas gostei do uniforme e da defesa forte deles, decidi que torceria por eles. No ano seguinte tive a felicidade de vê-los campeões do Super Bowl. Em 2009 também participei do primeiro treino de football da minha vida, no dia 2 de maio. Nunca mais saí.
Hoje sou ex-jogador, mas vou ajudar na comissão tecnica das categorias de base do meu time, o Paraná HP.

GlaucoO futebol americano não tem um grande publico no Brasil, o que é preciso fazer para divulgar mais esse esporte?

Wyllian: Precisa acabar o preconceito. O Brasil não é um país polo de esportes, eu digo que é monoesportivo, só temos futebol realmente forte, outras modalidades ainda têm muito o que andar pra chegar no mesmo patamar. E é difícil de mudar porque isso está na cultura popular já, inserir uma outra modalidade em horário nobre da Globo, por exemplo, não daria ibope, e sem dar lucro pras grandes emissoras não há chances de algo ter divulgação grande, e de evoluir, automaticamente.
Além disso, precisa-se quebrar esse preconceito de que é um esporte violento. No futebol bretão há um número muito maior de lesões que no futebol americano, por exemplo. Os caras estão jogando um esporte de contato, é intenso, mas há uma tecnica pra isso, há equipamentos, e principalmente há muito respeito, que é a principal filosofia do futebol americano e que passa longe da realidade dos boleiros.

GlaucoVocê tem ideia de quantos times de futebol americano existem hoje no Brasil?

Wyllian: Ih caramba, aí você me pegou. Só no Torneio Touchdown, que é o maior campeonato do Brasil, com transmissão na TV e tudo mais, são 20. No campeonato Confederação Brasileira tem mais uns 30 ou 40, e isso só contando as equipes que jogam torneios nacionais, tem o regional do Nordeste que tem mais de 15 times pelo que sei, e ainda aquelas equipes que jogam apenas estaduais. Se for incluir os que jogam na praia, os que jogam flag football (sem contato) e os times femininos e de base, chega a 200 equipes, provavelmente

Glauco: Qual a pergunta mais cretina sobre esse esporte você já ouviu? 

Wyllian: Putz cara... Acho que quando perguntam por que o quarterback fica encoxando o companheiro no começo da jogada, ou então por que chamam de futebol se é jogado com a mão. A maioria das vezes é só tirando sarrinho, mas a do quarterback teve gente que me perguntou sério já.

GlaucoMas agora uma pergunta que em off você disse para eu não fazer, mas existe um por que disso e vou faze-la. Por que a bola é oval?

Wyllian: O jogo é derivado do rugby, que era jogado com as bolas de futebol que ficavam ovais, e o formato era ideal pro tipo de passe que é feito. A nossa é mais pontuda pela "aerodinâmica" do passe para frente. Basicamente é isso.

GlaucoSe hoje uma criança chegasse para você e te falasse que estaria na duvida de praticar o futebol convencional ou o americano, qual você indicaria e por que?

Wyllian: Futebol americano sem sombra de dúvidas. Hoje em dia, que o esporte está bem fixado por aqui, temos diversos americanos no país que valorizam os jovens talentos, e os lapidam para que tenham a chance de jogar no exterior. Por lá, se joga nas escolas e faculdades. O garoto sai daqui pré pronto, vai pra lá e aprende o grosso do esporte e tem a chance de estudar em um dos melhores sistemas de ensino do mundo. Se ele não virar um talento do esporte, pelo menos tem no curriculo experiência de estudo fora. Sem contar que no futebol americano tem espaço pra alto, baixo, gordo, magro, forte, todo mundo tem valor

GlaucoComo o nosso Blog é sobre musica e esporte temos que perguntar.O que o Wyllian Soppa ouve?

Wyllian: Eu sou do rock, nasci ouvindo isso, e essa é uma origem que não abandono. Gosto de outros sons, mas é no rock que estou em casa. Adoro rock clássico, e principalmente punk rock. Depois de ouvir Dead Kennedys você nunca mais volta a ser como era antes. Gosto muito do rock curitibano também, especialmente de como ele era, e que eu espero que volte a ser (menos fresco).

GlaucoFutebol Americano combina com Rock?

Wyllian: Completamente. E com rap também, que aliás é meu segundo ritmo.

GlaucoPor que vc acha que o rock curitibano anda "fresco"?

Wyllian: Cara, eu coloco lado a lado Blindagem e Terminal Guadalupe, por exemplo, que são algumas das maiores bandas que eu já ouvi, e A Banda Mais Bonita da Cidade (que não é exatamente curitibana, mas é cultuada demais por aqui). Acho que não precisa explicar muito né. A música deles é muito colorida, meio "bala de goma", enquanto das outras duas é marcante e forte, mesmo quando fala de sentimento.
Mas é coisa dos jovens de hoje em dia né (risos). Eu sou o cara de 25 anos mais velho que você conhece. Não me enquadro muito nessa onda hipster
GlaucoQuem é Wyllian Soppa para Wyllian Soppa?

Wyllian: É o cara mais legal do mundo, que tem as melhores ideias e ideologias, que toma as melhores decisões. Mas eu só acho isso por que o Wyllian Soppa é um cara com quem não convivo (risos). Se fosse pra conviver, eu provavelmente rivalizaria comigo mesmo, meu gênio é muito complicado, apesar de ser amigo dos amigos sempre.

GlaucoSoppa, obrigado mesmo de você topar participar do blog Fazendo Musica Jogando Bola e torço para que o futebol americano seja mais valorizado no país, pois o nosso futebol perdeu totalmente o rumo, jogadores pensam apenas em dinheiro, já pela filosofia do americano pensasse mais no futuro do jogador como pessoa também.

Wyllian: Eu que agradeço, cara... Sei que é utopia, mas quem sabe um dia o jogo vire e o esporte aqui comece a caminhar junto com a educação, comece a haver respeito à hierarquia e amor ao time (ou pelo menos honra ao alto salário). E quem sabe o football se torne um esporte profissional aqui, pro meu filho nascer já bem encaminhado (risos).