Nascido e criado em Curitiba, mas com planos de meter o pé na estrada e buscar o sucesso na profissão no Rio de Janeiro, se tudo der certo.
Glauco Silveira: Já sabemos que você torce para o Flamengo, pois bem, por que o Flamengo já que você é nascido e criado em Curitiba?
Wyllian Soppa: Eu nasci em berço coxa (Coritiba), minha família é coxa, mas eu quando pequeno nunca fui muito fã de futebol. Um amigo da família tentou me converter pro Inter quando pequeno, mas não deu certo. Continuava não gostando de futebol. E como a maioria dos torcedores do coxa que eu conhecia eram absolutamente chatos e sem noção, fui perdendo de vez o interesse pelo time e pelo esporte, até que um dia, na sétima série (isso foi em 2002), tive que fazer um trabalho sobre o futebol brasileiro, me caiu o Flamengo. Enfim, comecei a estudar a história, ver jogos históricos, comecei a me envolver, gostar, e decidi que seria Flamenguista, Foi meio arrebatador.
Glauco: E qual o jogo do Flamengo que você tenha presenciado que te marcou? Tipo o jogo da
sua vida como torcedor?
Wyllian: Que
eu presenciei foi a final da Copa do Brasil do ano passado, no primeiro jogo.
Foi a primeira final com meu time que pude ver ao vivo, e consegui garantir
presença faltando poucas horas pro início do jogo. Foi bem emocionante sentir
aquela vibração de jogo decisivo, foi algo diferente de qualquer outra coisa que eu
já tenha vivido em estádio.
Glauco: E no passado do Flamengo, já que você estudou a história do clube, qual passagem
você gostaria de ter presenciado?
Wyllian: Dois
jogos, na verdade. Queria ter visto aquele gol de falta na final do Carioca de
2001, aos 43 do segundo tempo, quando o Pet quase derrubou o Maracanã, e sem dúvidas
Flamengo x Liverpool, em 1981
pelo Mundial, não só pelo Fla, não só
pelo título, mas pelo baile do Zico, pra mim um dos maiores jogadores do mundo.
Glauco: Como
jornalista qual a sua opinião sobre a Copa do Mundo ser realizada no
Brasil...você acha uma boa ou uma "furada"?
Wyllian: Uma
furada, desde o início. Todos nós sabíamos dos riscos de desvios devido ao Pan
do RJ. Sabemos como funciona no Brasil. É claro que, se for só pelo evento,
pela grandeza e pela chance de ter uma Copa do Mundo aqui perto, é sensacional.
Mas se for levar em conta os jogos políticos, é uma furada imensa. O que eu
acho mais triste é a postura da população. Na hora em que dava tempo de evitar,
todos acompanharam em televisões ou telões a escolha do Brasil como sede, todos
vibraram, sendo que aquele era o momento ideal pra evitar. Depois que a vaca
foi pro brejo, e que não tinha mais como reverter o processo, surgiu o
movimento #NãoVaiTerCopa, mais uma demonstração da passividade do nosso povo e
de como se deixa tudo pro último instante.
Glauco: Muito
se fala até por que estamos no estado do Paraná sobre o superfaturamento da
Arena da Baixada, porém na sua opinião estádios como de Cuiabá, Natal e
Amazonas haviam reais necessidade de construir ou reformar?
Wyllian: Eu
acho ridículo construir estádios como estes em locais onde nem sequer existe
futebol. Em Cuiabá, por exemplo, vai acabar virando casa do futebol americano
da cidade, que dá o triplo de público do que a soma das torcidas dos principais
times de lá, por exemplo (e ainda assim é pouca gente). É claro que, se a Copa
é do BRASIL, é justo que tenha jogos em todas as regiões, mas vai acontecer
como na África do Sul, onde alguns estádios foram demolidos. Se fizesse o que
era mais viável, que seria polarizar no leste do país, diriam que era
preconceito com os outros lugares, mas fazer estes elefantes brancos é mais
absurdo do que polarizar a competição.
Glauco: Já
que você falou no futebol americano, como esse esporte entrou na sua vida?
Wyllian: Eu
sempre gostei dos esportes de fora, assistia NBA na Bandeirantes, por exemplo.
A primeira vez que vi algo relacionado ao futebol americano foi quando era
molequinho, em um desenho do Pateta sobre como jogar o esporte, aquilo foi
impagável. O primeiro jogo que assisti foi na temporada 2007/2008, um jogo do
Pittsburgh Steelers onde eles tomaram uma surra. Mas gostei do uniforme e da
defesa forte deles, decidi que torceria por eles. No ano seguinte tive a
felicidade de vê-los campeões do Super Bowl. Em 2009 também participei do
primeiro treino de football da minha vida, no dia 2 de maio. Nunca mais saí.
Hoje
sou ex-jogador, mas vou ajudar na comissão tecnica das categorias de base do
meu time, o Paraná HP.
Glauco: O
futebol americano não tem um grande publico no Brasil, o que é preciso fazer para
divulgar mais esse esporte?
Wyllian: Precisa
acabar o preconceito. O Brasil não é um país polo de esportes, eu digo que é
monoesportivo, só temos futebol realmente forte, outras modalidades ainda têm
muito o que andar pra chegar no mesmo patamar. E é difícil de mudar porque isso
está na cultura popular já, inserir uma outra modalidade em horário nobre da
Globo, por exemplo, não daria ibope, e sem dar lucro pras grandes emissoras não
há chances de algo ter divulgação grande, e de evoluir, automaticamente.
Além
disso, precisa-se quebrar esse preconceito de que é um esporte violento. No
futebol bretão há um número muito maior de lesões que no futebol americano, por
exemplo. Os caras estão jogando um esporte de contato, é intenso, mas há uma
tecnica pra isso, há equipamentos, e principalmente há muito respeito, que é a
principal filosofia do futebol americano e que passa longe da realidade dos
boleiros.
Glauco: Você tem ideia de quantos times de futebol americano existem hoje no Brasil?
Wyllian: Ih
caramba, aí você me pegou. Só no Torneio Touchdown, que é o maior campeonato do
Brasil, com transmissão na TV e tudo mais, são 20. No campeonato Confederação
Brasileira tem mais uns 30 ou 40, e isso só contando as equipes que jogam
torneios nacionais, tem o regional do Nordeste que tem mais de 15 times pelo
que sei, e ainda aquelas equipes que jogam apenas estaduais. Se for incluir os
que jogam na praia, os que jogam flag football (sem contato) e os times
femininos e de base, chega a 200 equipes, provavelmente
Glauco: Qual a pergunta mais
cretina sobre esse esporte você já ouviu?
Wyllian: Putz
cara... Acho que quando perguntam por que o quarterback fica encoxando o
companheiro no começo da jogada, ou então por que chamam de futebol se é jogado
com a mão. A maioria das vezes é só tirando sarrinho, mas a do quarterback teve
gente que me perguntou sério já.
Glauco: Mas
agora uma pergunta que em off você disse para eu não fazer, mas existe um por que disso e vou faze-la. Por que a bola é oval?
Wyllian: O jogo é derivado do rugby, que era jogado com as bolas de futebol que ficavam
ovais, e o formato era ideal pro tipo de passe que é feito. A nossa é mais
pontuda pela "aerodinâmica" do passe para frente. Basicamente é isso.
Glauco: Se
hoje uma criança chegasse para você e te falasse que estaria na duvida de
praticar o futebol convencional ou o americano, qual você indicaria e por que?
Wyllian: Futebol
americano sem sombra de dúvidas. Hoje em dia, que o esporte está bem fixado por
aqui, temos diversos americanos no país que valorizam os jovens talentos, e os
lapidam para que tenham a chance de jogar no exterior. Por lá, se joga nas
escolas e faculdades. O garoto sai daqui pré pronto, vai pra lá e aprende o
grosso do esporte e tem a chance de estudar em um dos melhores sistemas de
ensino do mundo. Se ele não virar um talento do esporte, pelo menos tem no
curriculo experiência de estudo fora. Sem
contar que no futebol americano tem espaço pra alto, baixo, gordo, magro, forte, todo mundo tem valor
Glauco: Como
o nosso Blog é sobre musica e esporte temos que perguntar.O que o Wyllian Soppa
ouve?
Wyllian: Eu
sou do rock, nasci ouvindo isso, e essa é uma origem que não abandono. Gosto de
outros sons, mas é no rock que estou em casa. Adoro rock clássico, e
principalmente punk rock. Depois de ouvir Dead Kennedys você nunca mais volta a
ser como era antes. Gosto muito do rock curitibano também, especialmente de
como ele era, e que eu espero que volte a ser (menos fresco).
Glauco: Futebol
Americano combina com Rock?
Wyllian: Completamente.
E com rap também, que aliás é meu segundo ritmo.
Glauco: Por que vc acha que o rock curitibano anda "fresco"?
Wyllian: Cara,
eu coloco lado a lado Blindagem e Terminal Guadalupe, por exemplo, que são
algumas das maiores bandas que eu já ouvi, e A Banda Mais Bonita da Cidade (que
não é exatamente curitibana, mas é cultuada demais por aqui). Acho que não
precisa explicar muito né. A música deles é muito colorida, meio "bala de
goma", enquanto das outras duas é marcante e forte, mesmo quando fala de
sentimento.
Glauco: Quem
é Wyllian Soppa para Wyllian Soppa?
Wyllian: É o
cara mais legal do mundo, que tem as melhores ideias e ideologias, que toma as
melhores decisões. Mas eu só acho isso por que
o Wyllian Soppa é um cara com quem não convivo (risos). Se fosse pra conviver, eu
provavelmente rivalizaria comigo mesmo, meu gênio é muito complicado, apesar de
ser amigo dos amigos sempre.
Glauco: Soppa,
obrigado mesmo de você topar participar do blog Fazendo Musica Jogando Bola e
torço para que o futebol americano seja mais valorizado no país, pois o nosso
futebol perdeu totalmente o rumo, jogadores pensam apenas em dinheiro, já pela
filosofia do americano pensasse mais no futuro do jogador como pessoa também.
Wyllian: Eu
que agradeço, cara... Sei que é utopia, mas quem sabe um dia o jogo vire e o
esporte aqui comece a caminhar junto com a educação, comece a haver respeito à
hierarquia e amor ao time (ou pelo menos honra ao alto salário). E quem sabe o
football se torne um esporte profissional aqui, pro meu filho nascer já bem
encaminhado (risos).