Gilson de Paula é natural de Curitiba, capital
do Paraná. Formado em jornalismo pela PUC-PR, em 1992, sempre se destacou pela
irreverência de seus textos, sem deixar a ironia e o sarcasmo de lado.
Foi editor de esportes do Diário Popular entre
1993 e 2007. Nessa época, era ele quem realizava o tradicional jantar Chuteira
de Ouro, que premiava os melhores jogadores do Campeonato Paranaense.
Também foi redator chefe da Revista Pista
Livre, especializada em automobilismo, entre os anos de 1991 e 2001. Além de jornalista
e escritor, também é cantor e compositor, sendo autor de mais de 150 canções.
No cinema, dirigiu o filme Coração Verde e
Branco, em 2009, o qual conta a história dos primeiros 100 anos da vida do
Coritiba Foot Ball Club, trabalho esse que foi muito elogiado pela crítica e
também pelo público.
Na literatura, foi autor da obra “Inocência
Perdida- A mulher de branco”, romance de ficção lançado em quatro países (Cabo
Verde, Angola, Portugal e Brasil) pela Chiado, a principal editora de Portugal.
Agora Gilson de Paula entra em campo com a
biografia de Rafael Cammarota. Ele próprio diz que se sentiu muito à vontade
para contar a história do maior goleiro da história do Coritiba.
“Os capítulos mais emocionantes eu praticamente
vivi junto, ali na arquibancada. Portanto, foi um prazer imenso poder reviver
todas aquelas emoções. Estou muito feliz por ter essa oportunidade na minha
carreira”, diz.
Glauco Silveira: Mas o Rafael também foi um ídolo no
Atlético, isso vai entrar neste livro?

Glauco: Tem como reverter e evitar a queda esse
ano?
Gilson: Particularmente, acho que não. Se você
perguntar se eu ainda tenho esperanças, lógico que sim. Porém, é aquela
esperança quase morta. Não acredito nesse treinador atual. Se mandaram ele
embora no ano passado para evitar o rebaixamento, como é que vão trazer o cara
esse ano para tentar se salvar? Onde está à coerência nisso? É muita
incompetência andando junto no Alto da Glória. Mas como não me resta outra
alternativa, o jeito é rezar bastante e torcer para esse time fraco e para esse
treinador tão fraco quanto o elenco que ele tem nas mãos.
Glauco: E o que fazer para subir ano que vem?
Gilson: Se cair, o Coritiba precisa começar do
zero. Mas do zero mesmo. Primeira coisa a se fazer é se livrar de todos esses
jogadores ligados a empresários, que estão só jogando a história do clube na
lama. Deve-se montar uma comissão técnica que tenha um mínimo de noção de
futebol e formar uma equipe barata e jovem para disputar o Campeonato Paranaense.
Durante o Estadual, o treinador poderá analisar quais atletas terão capacidade
para disputar o Campeonato Brasileiro e, conforme chegar perto do início da
competição mais importante, fazer três ou quatro contratações pontuais. Dá pra
fazer um time barato, enxuto, com atletas da base e com força para subir, sem
fazer muito esforço. Mas pra isso é preciso acabar com essa farra de jogadores
de empresários no Alto da Glória. Se não cair, eu acho que vai ser saco de
pancadas de novo ano que vem porque a grana da TV já foi utilizada, ou seja:
vai disputar a Série A, contra equipes milionárias em desigualdade de
condições, financeiramente falando. A não ser que apareça algum maluco que
resolva injetar dinheiro do bolso no clube, coisa que eu não acredito que vá
acontecer.
Glauco: O porquê você virou torcedor do
Coritiba?
Gilson: Eu não virei torcedor. Já nasci coxa
branca.
Glauco: Qual o jogo que marcou sua vida?
Gilson: Coritiba x Santos, no Alto da Glória.
Última rodada do returno do Campeonato Brasileiro. O Coritiba precisava vencer
para passar à segunda fase. O jogo seguia empatado em 1 x 1 até os 45 do
segundo tempo, quando o Lela praticamente tomou a bola do Marco Aurélio e
mandou pro fundo da rede. Poucas vezes na minha vida eu vi tantas pessoas
emocionadíssimas por causa do futebol. Aquela imagem das pessoas chorando,
agradecendo a Deus, se abraçando, se ajoelhando e gritando como loucos é algo
que eu nunca mais vou esquecer. Foi incrível. Foi ali que o Coritiba começou a
conquistar o título daquele campeonato.
Glauco: Alex, alegria ou decepção?
Gilson: Você quer me colocar numa fria, né
(risos)? O Alex é um cara super gente boa, que foi ídolo no Palmeiras, no
Cruzeiro e que, na minha opinião, devia ter disputado as Copas do Mundo de 2006
ou 2010 porque muitos que foram pra esses mundiais não jogavam metade da bola
que ele jogava. No Coritiba ele não foi bem, infelizmente. Porém, é bom ressaltar
que, no meio do time que ele joga, nem o Messi iria bem. O cara dá o disco e só
volta à capa. Complicado.
Glauco: O que você acha que fez o Sr. Vilson
Ribeiro de Andrade que se perdeu no comando do Coritiba?
Gilson: O grande erro do Coritiba, hoje, é
deixar o futebol do clube nas mãos de pessoas que não têm qualquer ligação
afetiva com o clube. Dia desses, o time foi jogar em São Paulo, o Rafael foi
conversar com os dirigentes e ninguém sabia quem ele era. O que falta no
Coritiba é gente que queira ver o clube vencendo jogos e vencendo
financeiramente. O Coritiba não é um banco, ao contrário do que pensam esses
caras que dirigem o clube atualmente. O Coritiba é futebol. Eles estão lá para
fazer do Coritiba um clube vencedor dentro de campo. O Vilson centralizou
demais, não ouviu ninguém e contratou diretores profissionais da bola. Quando
eu digo profissionais, falo de gente que só pensa em grana. Aí entopem o clube
de jogadores ligados a empresários amigos desses profissionais da bola para
tentar valorizar algum deles e vender em seguida. O Coritiba é muito maior que
isso. Sou do tempo em que atletas ficavam cinco, seis anos no clube, jogando
por amor à camisa, com o único objetivo de levantar taça. Hoje um moleque de 17
anos assina contrato com o Coritiba e, durante a vigência desse contrato, o
procurador dele já está oferecendo esse atleta pra tudo quanto é clube. É assim
que está a vida do Coritiba atualmente. Uma lástima. Precisamos de coxas
brancas de verdade fazendo futebol no Alto da Glória. Se você me perguntar um
nome, eu te dou: Giovani Gionédis, que depois do Evangelino, foi o único cara
que nos colocou na Libertadores. Depois também fez um monte de cagadas, mas ele
errou pensando em acertar. Trata-se de um grande coxa branca.
Glauco: Como jornalista e torcedor, o fato
lamentável na ultima queda do Coritiba para serie B ou até mesmo a barbárie em
Joinville no jogo Atlético x Vasco e confronto de torcidas que acontecem pelo
país afora mesmo que não seja um clássico. Você é a favor do fim das
Organizadas ou se houver interesse do clube essa violência pode diminuir ou até
mesmo acabar?
Gilson: Eu não sou a favor do fim das
organizadas. Muito pelo contrário. Quanto mais organizadas, mais lindas são as
festas nos estádios. Eu sou a favor da punição severa aos torcedores que usam a
camisa de um time ou de uma organizada para brigar e promover atos de
vandalismo. As leis estão aí, mas não são cumpridas. Aliás, isso não acontece
só no futebol. As leis não são cumpridas em todos os segmentos no Brasil. Por
isso que as pessoas cometem delitos. Elas sabem que nada vai acontecer. Se o
cara souber que ele vai passar uma bela temporada na cadeia, que ele vai ter
que tirar muita grana do bolso, que ele vai ter que cumprir uma pena, tenho
certeza que ele iria pensar duas vezes antes de sair distribuindo porrada nos
estádios por aí. A impunidade é a grande culpada de tudo. Poderiam criar,
inclusive, uma delegacia especializada em torcedores briguentos. Quem fosse pra
lá passaria uma temporada fabricando brinquedos e bolas para crianças carentes.
Garanto que a violência nos estádios iria diminuir bastante. Esse negócio de
dizer que a briga acontece só por causa da organizada é bobagem. Tem muito
neguinho ali que sai no tapa usando a camisa da organizada, mas nem é
associado. E pior que estoura sempre na cabeça da diretoria da torcida. Agora,
quando uma organizada reúne os seus associados para doar sangue em massa não
aparece nenhuma emissora de TV para cobrir. Quando eles fazem festas de natal
em creches e orfanatos, com arrecadação feita entre os associados, ninguém
divulga. As torcidas organizadas fazem muito mais pelas pessoas carentes do que
esses que só sabem dar porrada nessas instituições. Lógico que não são santos,
mas também não são tão demônios assim. Um salve pra todos os irmãos lá da
Império Alviverde, a maior do Sul do País.
Glauco: O que é mais difícil, escrever um
livro, dirigir um filme ou compor uma canção?
Gilson: São três trabalhos completamente
diferentes, porém extremamente prazerosos. Quando você está fazendo uma canção,
geralmente o resultado daquele trabalho mostra como está sua alma naquele
momento. Se você estiver apaixonado vai sair uma linda balada romântica. Se
você estiver feliz, realizado, vai um rock and roll bem animado. Se você
estiver triste, o resultado será uma canção melancólica. O compositor
geralmente entrega como está se sentindo ao compor uma canção. O livro é
diferente. No meu caso, eu escrevo romances. É o mesmo que brincar de ser Deus.
Eu decido o que vai acontecer com meus personagens. Se me der na louca e
decidir que determinado personagem vai morrer naquele dia, ele morre e pronto.
É muito louco isso. E quem ler vai ter que se acostumar e aceitar aquilo que
você decidiu. É uma responsabilidade enorme. Já dirigir um filme é preciso
feeling. Você tem que estar com o resultado final já na cabeça. Não dá pra
mudar o caminho da coisa durante o trabalho. No primeiro dia de filmagens, o
roteiro já está pronto com começo, meio e fim. É algo mais mecânico. Dos três
trampos, eu acredito que fazer uma música é o mais complicado. Eu posso sentar
na frente do meu computador agora e escrever um conto facilmente. Posso pegar
uma câmera e dirigir um filme sem esforço algum. Agora, se eu disser que vou
sentar na frente do computador e fazer uma música a qualquer momento, estarei
mentindo. Tem que ser na hora certa. Sem inspiração, sem música.
Glauco: Do que se trata seu livro? Quanto tempo
para escrevê-lo?
Gilson: Meu livro é uma história que se passa
na fictícia cidade de Puritana do Norte, uma cidade quente no Nordeste. E nessa
cidade reza a lenda que os homens infiéis são atacados por uma fantasma vestida
de branco. E numa bela noite, o Dagoberto garoto que sonhava em ser padre, foi
atacado pela Mulher de Branco. Só que ele não acreditou muito naquela história
de fantasma e resolveu dedicar seu tempo para descobrir quem foi à mulher que
desgraçou sua vida e acabou com sua castidade. A história mostra a vida como
ela é. Os personagens são canalhas, egocêntricos, egoístas, sacanas. Como bem disse
Luis Fernando Veríssimo numa crítica publicada no Jornal Zero Hora, a obra
“Inocência Perdida” lembra muito as obras de Dias Gomes. É diversão do começo
ao fim. Todos que leram gostaram muito, graças a Deus. Levei seis meses para
escrevê-lo, mas a história eu tinha na cabeça desde 1985.
Glauco: A sua Radio Web é mais por prazer ou
tem também seu cunho comercial?
Gilson: Nenhuma das duas. A Rádio K64 existe
exclusivamente para divulgar o trabalho da minha banda e também para divulgar
os eventos ligados ao motociclismo paranaense. Estamos com cinco mil ouvintes
por dia e hoje eu posso dizer que a rádio é um patrimônio do motociclista
brasileiro. Muita gente diz que não sabe mais viver sem a rádio K64, que é, sem
dúvida, a rádio mais rock and roll que existe. www.k64.com.br Acesse e confira.
Glauco: Você cria “inimigos” com seus textos?
Já teve problemas com isso?
Gilson: “Inimigos” acho que é uma palavra muito
forte. Como eu não tenho medo de dizer o que penso e não tenho papas na língua,
às vezes algumas pessoas acabam se irritando porque nem sempre a verdade é algo
agradável de ler. Mas confesso que não ligo pra isso. O importante é você ter a
consciência de que está fazendo a coisa certa.

Gilson: A biografia do Rafael será lançada
agora, dia 10 de novembro, na Coxamania do Shopping Total. Portanto, ainda
estou em pleno desenvolvimento do projeto. Ainda não sei qual será o próximo
passo. Estou pensando em gravar um DVD ao vivo com a minha banda com músicas
próprias. Acho que esse é projeto para esse começo de 2015.
Glauco: Quem é Gilson de Paula por Gilson de
Paula?
Gilson: Isso eu já falei na letra da canção
Trocando Ideias. “Sou um brasileiro saudável com costumes normais. Certas vezes
penso que tenho um grande potencial. Mas não passo de um personagem que eu
criei numa boa. Passo o tempo inteiro tentando ser um cara legal. Tenho mania
de pensar no passado. Meus ídolos já não estão mais aqui. Então me resta tomar
outra gelada com algum camarada para me divertir”. Sou uma pessoa que não é
capaz de fazer mal a absolutamente ninguém e que está sempre disposto a ajudar
os outros, desde que os outros mereçam ser ajudados. É isso!
Glauco: Gilson, obrigado por essa palhinha no
blog, pois estaremos estreando em breve o programa na Radio Antena 1000, onde
você poderá contar muito mais sobre sua carreira em todos os segmentos. Muito
sucesso para você!
Gilson: Fiquei muito feliz com o convite. Eu vi
o Mauro Mueller respondendo essas perguntas no blog e ser colocado no mesmo
pedestal que um monstro como ele é uma honra enorme pra mim. Agradeço de
coração e espero ter colaborado aí com o blog. Desejo sucesso e saúde ao amigo
e que Deus abençoe todos nós. Que 2015 traga de volta as alegrias e mande pra
longe as amarguras de 2014. Valeu galera! Felicidade geral aí!